O fim da busca como conhecemos (31/07)
E como isso pode afetar as notícias que chegam até você
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Fala, meu povo! Hoje decidi trazer para cá um tema que rendeu conversa no meu Xwitter: Google Search perde tudo e vai morar de aluguel. Brincadeiras à parte, o anúncio de um protótipo de buscador da OpenAI, o SearchGPT, com certeza está deixando muitos executivos e editores de cabelo em pé.
O que rolou?
Na última quinta-feira (25), a OpenAI apresentou ao mundo seu novo projeto, o SearchGPT. O buscador usa Inteligência Artificial para responder “de forma rápida e direta” às perguntas com informações atualizadas, além de fornecer contexto.
O primeiro pensamento que pode vir à mente é que a novidade pode ser uma ameaça ao Google Search, que reina soberano com mais de 91% de participação no mercado de mecanismos de busca em todo o mundo, de acordo com dados da Statcounter. No Brasil, o número chega a quase 95%.
No entanto, o viés que gerou conversas interessantes no meu perfil foi outro: a forma como pesquisamos vai mudar e isso pode afetar os veículos de comunicação.
Tecnologia vs Notícias
Apesar do crescimento de buscas em redes sociais como o TikTok, o Google ainda é a grande potência do Search. No entanto, há anos os publishers lutam para reduzir a dependência financeira da empresa.
“Quanto mais audiência, mais dinheiro” foi uma máxima durante muitos anos nas redações, enquanto a maior parte do fluxo de leitores (e de receita) era proveniente de cliques nos resultados de busca do Google.
As constantes mudanças no algoritmo e a falta de clareza da empresa sobre os temidos Google Search's Core Updates já me deixaram de cabelo em pé inúmeras vezes ao longo da última década, enquanto atuava como editora-chefe de veículos especializados.
O desafio da vez é a Inteligência Artificial Gerativa (ou Generativa, como as empresas gostam de chamar). Já é fato que a pesquisa com IA será uma das principais formas de as pessoas navegarem na internet, então é crucial que a tecnologia respeite o jornalismo desde o princípio.
O próprio relatório da Reuters sobre o mercado de notícias digitais em 2024 apontou que “interfaces de pesquisa e chatbots orientados por IA que podem reduzir ainda mais os fluxos de tráfego para sites e aplicativos de notícias, adicionando mais incerteza sobre como os ambientes de informação podem parecer em alguns anos”.
No papel, a OpenAI está demonstrando atenção a esse ponto — e essa pode ser a maior diferença entre o SearchGPT e o Google Search. No seu post de divulgação da ferramenta, a empresa comunicou que está trabalhando com editores e repórteres para manter o jornalismo na “vanguarda de seus esforços”.
"Estamos comprometidos com um ecossistema próspero de editores e criadores. Esperamos ajudar os usuários a descobrir sites e experiências de editores, ao mesmo tempo em que trazemos mais opções para a pesquisa"
A empresa, inclusive, já fechou acordos de licenciamento de conteúdo com grandes organizações de notícias, como Associated Press, que permite à OpenAI acesso a parte dos arquivos de texto.
Intervenção governamental
Países como Canadá e Austrália já possuem regras para as big techs e, no Brasil, vários projetos de lei tratam da remuneração do jornalismo em plataformas.
O PL 2370/2019, da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), altera a Lei dos Direitos Autorais e estabelece pagamento de direitos autorais e remuneração a veículos de imprensa e artistas por reprodução de conteúdo em ambientes digitais, por exemplo.
O texto inclui a sustentabilidade do jornalismo por meio de regras e diretrizes para remuneração de conteúdos jornalísticos digitais reproduzidos por empresas como Google e Meta, mas ainda não foi votado.
O tema voltou a ser debatido em audiência pública em março de 2024 e foi considerado urgente pelo Conselho de Comunicação Social (CCS).
Eu continuo sendo uma grande entusiasta de novas tecnologias, mas sem dúvidas esse é um ponto de atenção. No final das contas, a minha expectativa é que tenhamos uma tecnologia de IA que valorize e proteja o ecossistema jornalístico.
Mas o que você pensa sobre tudo isso?
Besos!